sexta-feira, 29 de maio de 2015

Dia 15



Findado o dia anterior, depois de um banho quente revigorante acordei às 07h00min e comecei o preparo para a subida ao Fitz Roy (local onde me ponho a escrever agora) e para a Laguna de los Três. Como o hostel não contava com café da manhã, desci para a cozinha e lá preparei uma xícara de café, um copo de cereal com leite e alguns pedaços de pão com manteiga. Na ocasião, uma das alemãs, que estavam no mesmo quarto que eu, perguntou se estava tudo bem comigo, pois não tinha conversado muito e tinha ido me deitar cedo. Agradeci a preocupação e expliquei que estava muito cansado pela sequência de dias mal dormidos (principalmente pela noite passada na rodoviária) e também em função do meu inglês não ser assim tão fluente.

Conversamos um pouco sobre como chegar ao Fitz Roy sem tomar nenhuma van (nada que me custasse quaisquer valores), de forma independente. Depois disso encontrei um casal de brasileiros que confirmaram as informações passadas pela alemã. Iniciei a caminhada às 08h00min, depois de pegar um mapa no centro de informação para turistas (muito comum por lá) no terminal rodoviário. Já quase na saída da cidade, onde começava a trilha para o Fitz Roy, encontro novamente Scott, o nova-iorquino, dizendo que a noite anterior havia sido uma loucura segundo ele. Mal sabia como tinha chegado ao seu hostel e acordado cedo. Depois de algumas risadas, segui meu caminho.

Quando iniciei a trilha o tempo estava nublado e fazia pouco frio. Acreditava que poderia ser muito frustrante caminhar todo o percurso para chegar à montanha e não ver nada lá de cima, mas mesmo assim segui em frente. Seriam 10 km de trilha até a montanha, sendo o último deles o mais difícil (ao menos era o que todos diziam). Havia alguns avisos alertando sobre a necessidade de estar bem física e mentalmente para concluir a subida. A caminhada foi bem tranqüila, tinha dormido bem e me alimentado decentemente, o que faz certa diferença nesse tipo de trilha. À medida que ia subindo, já podia ver parte da majestosa montanha. O sol foi saindo em meio às nuvens, o tempo foi melhorando.

Conheci algumas pessoas no percurso, embora não tenha perguntado o nome de nenhuma delas, apenas conversações rápidas. No fim das contas o trecho final não foi tão duro quanto haviam dito, sendo um pouco difícil sim, de fato, mas creio que os dias em Torres del Paine serviram como uma ótima preparação física. Concluí a travessia do trecho final na metade do tempo que os avisos estipulavam. Quando finalmente cheguei ao topo da montanha, lá estava o tal Fitz Roy, sem uma única nuvem que pudesse atrapalhar a visão. Simplesmente sensacional aquela vista! Cheguei ao topo às 11h00min e só desci de lá às 16h00min. Passei o dia todo contemplando aquela beleza toda. Tirei fotos, escrevi, admirei, tudo o que imaginava foi superado. Tive até o previlégio de fotografar três condores que nos deram o prazer de contemplar seu vôo (eles praticamente não batem suas asas, apenas planam pelas correntes de ar), um espetáculo à parte!

Pelo tempo que lá fiquei busquei pensar bastante na vida, fazer planos, observar as pessoas, etc. Uma oportunidade imperdível para colocar em ordem seus pensamentos! Nessas observações, havia um senhor que já passava dos 50 anos, estadunidense, conversando com duas gurias bem jovens, uma argentina e outra catalã. Chamou-me a atenção, pois o tiozão tinha um telefone via satélite, o que possibilitou que as gurias fizessem ligações para suas respectivas casas dizendo estar no alto da montanha em “muy buena onda, muy contentas!”. Muito tecnológico aquele senhor. Do pouco que prestei a atenção, pude ouvir (“sapear” na verdade) que aquele senhor havia investido dinheiro no mercado de ações nos anos 80, ganhando muito dinheiro, o que possibilitou pedir demissão do seu antigo emprego pra curtir a vida. Mais estadunidense que isso impossível!

Sem vontade alguma de sair dali, resolvi caminhar um pouco pelo topo. Foi aí que descobri a tal Laguna de los Três, escondida por detrás da montanha. Trata-se de três pequenas lagoas formadas pelo degelo da montanha, cada uma em um plano diferente, tornando-se impossível fotografá-las numa só foto. Depois de mais alguns instantes admirando as cachoeiras formadas pelo degelo, resolvi que era o momento de iniciar a descida. A todo o momento parava e olhava para trás a fim de contemplar aquela paisagem mais uma única vez. Tirei uma sequência de fotos iguais, pra não perder sequer uma única visão daquilo. No meio da descida encontro novamente Scott (fato recorrente em toda a viagem) subindo a montanha (de sandálias).

Finalizada a descida, tomado por um sentimento de realização intenso, passei numa pequena venda e comprei algumas frutas com a grana que e restava. Assim que cheguei ao hostel tomei um banho e desci para a cozinha a fim de comer algo, estava faminto. Lá havia três israelenses preparando hambúrgueres e duas gurias fazendo purê de batatas. Comi alguns pães com presunto, cereal com leite e frutas que havia comprado quando retornei do trekking. As duas gurias, uma alemã chamada Hanna e sua amiga austríaca, Júlia, disseram que eu era muito saudável, pois estava a comer “slow food”. Disse a elas que tinha vontade de comer “hamburguesas” bem como os israelenses, mas o que me restava era a comida saudável. Percebi que não estava tão mal assim, pois comer purê de batatas puro não é das melhores refeições, devo admitir. No final do papo Hanna foi muito simpática ao me convidar para assistir um filme de graça que ia rolar numa livraria na cidade.

Ao subir pro quarto, a fim de descansar, chegaram duas novas pessoas, até então só estavam eu e duas alemãs. Agora chegaram Chelsea, da Austrália e John, de Cingapura. Conversamos um pouco em inglês, o tempo suficiente pro meu vocabulário acabar, rs! Chelsea me contou que seu cartão de crédito havia sido clonado e todo o seu dinheiro sacado nas Filipinas (!), isso mesmo! Já tinha entrado em contato com o banco e aguardava a restituição por parte deles. Conversei um pouco com John, quando pude ter algumas impressões do ensino básico no seu país. O maluco tinha no máximo uns 20 anos, embora aparentasse uns 15 no máximo, mas era muito inteligente. Depois dessa conversa, pedi se poderia apagar a luz e capotei.

Início da trilha.

Río de las Vueltas

Chuva indo embora, descobrindo a montanha.

Fitz Roy!



 
Na volta pra Chaltén, sempre que olhava pra trás essa era a vista!

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