Este seria meu último dia
completo na cidade, e também em território argentino, pois na manhã seguinte
partiria meu vôo de volta ao Brasil. Estava a fim de aproveitar meu último dia
conhecendo mais alguma coisa da cidade. A opção que estava em minha mente era o
Monumental de Nuñez, estádio do River
Plate. Porém, meus planos já começariam a ser atrapalhados pelo extremo cansaço
sentido por mim, resultado de uma longa caminhada no dia anterior. Acordei, já
era hora do almoço. Escrevi algumas páginas neste diário, almocei e passei
grande parte da tarde organizando minhas coisas pra partir no dia seguinte, de
modo que não esquecesse nada.
No início da noite teria minha
última partida de futebol em solo porteño, a convite de Filipe. Antes de partir
pro futebol, fui ao mercado com Pedro e José a fim de comprar algumas coisas
para o preparo de um jantar logo mais, essa seria minha forma de retribuir ao
excelente tratamento que me foi dado nos dias em que permaneci naquela cidade. Arrumada
minha mochila, compras pro jantar já realizadas, era hora de partir pra San Telmo
pra encontrar com Filipe.
Bem, sobre a partida não há muito
que relatar, farei uso deste espaço então para agradecer. Foi graças a Filipe
(e também à Gonzalo – torcedor do Racing) que pude bater uma bola com os
hermanos e conhecer também um pouco da “cultura futebolística” dos caras. Além
disso, mesmo não podendo me receber por uns dias em sua casa, fez questão de me
colocar em contato com Gonzalo, por onde havia morado por cerca de um ano.
Apresentou-me à galera da casa, onde fui muito bem recebido. Atitudes como essa
me faz crer ainda mais que amigos também são aqueles com os quais não temos
muito contato, por razões do dia a dia de cada um, e até por razões
geográficas, mas que quando nos encontramos vemos que pouca coisa mudou (quase
nada, na real).
Depois da partida voltei
rapidamente, pois havia um jantar me esperando. Assim que cheguei já estava
tudo pronto e quase toda a galera já estava ali, com exceção de Pepe e Luisa
que não regressariam pra casa naquela noite. Tomei um banho, desci e começamos
a conversar ao redor da mesa. Estariam presentes no jantar Franck, o inglês com
o qual tive pouco contato, e uma francesa que havia chegado naquela noite pra
morar na casa (e minha memória não guardou seu nome pra esse relato, infelizmente).
Gonzalo me entregou um gravador
de mão e me pediu que eu gravasse uma mensagem a todos da casa, primeiramente
em espanhol e depois em
português. Disse ser uma tradição de todos aqueles que
passavam por ali em algum momento de suas vidas. Não me recordo exatamente o
que disse ali diante de todos, mas agradeci a recepção da galera da casa, que
me trataram muito bem em todas as ocasiões, e se colocaram à minha disposição
pra me ajudar no que quer que fosse. Gostaria muito de poder ouvir aquelas
palavras ditas por mim (e saber se meu nervosismo permitiu que eu dissesse tudo
àquilo que queria)!
Depois do jantar eu já estava
pronto pra dormir quando fui convidado por Macarena pra assistir um filme com a
galera na sala. Depois de ser convidado, “em português”, não poderia recusar
tal convite, rs! Durante o filme perceberíamos que minha última noite em Buenos Aires
revelaria ainda alguma surpresa. Em determinado momento fomos surpreendidos por
um enorme estrondo na sala de jantar, próxima à cozinha. Ficamos estáticos,
tomados pelo susto, e quando resolvemos levantar pra ver o que teria se
passado, veio outro estrondo, ainda maior que o primeiro! Nesse ponto já
pensávamos que tinha alguém tentando invadir a casa.
Quando veio o terceiro estrondo,
já estávamos todos de pé tentando entender o que se passava. Subimos pro andar
de cima, já na expectativa de dar de cara com o “invasor”. Nesse momento a
polícia já tinha sido acionada e já estava a caminho. Não permaneceram ali por
muito tempo, fizeram algumas perguntas e logo foram embora. Passado o susto,
nos demos conta que os estrondos foram causados por enormes blocos de mármore
que simplesmente despencaram do prédio vizinho, caindo sobre a claraboia da
sala de jantar, que era feita de uma espécie de fibra ou acrílico.
Depois de muitas teorias, chegamos à explicação mais lógica para o ocorrido: como havia papelão molhado junto aos pedaços de mármore e naquela noite chovia consideravelmente, supomos que alguém do prédio vizinho havia deixado o bloco de mármore guardado dentro de uma caixa de papelão no parapeito do prédio (que estava em obras). A chuva molhou o papelão, que cedeu com o peso do bloco de mármore, fazendo com que o mesmo caísse na sala de jantar, depois de atravessar a claraboia. Por sorte não havia ninguém por ali. Se acontecesse mais cedo, na hora do jantar, certamente o resultado seria fatal.
Depois de muitas teorias, chegamos à explicação mais lógica para o ocorrido: como havia papelão molhado junto aos pedaços de mármore e naquela noite chovia consideravelmente, supomos que alguém do prédio vizinho havia deixado o bloco de mármore guardado dentro de uma caixa de papelão no parapeito do prédio (que estava em obras). A chuva molhou o papelão, que cedeu com o peso do bloco de mármore, fazendo com que o mesmo caísse na sala de jantar, depois de atravessar a claraboia. Por sorte não havia ninguém por ali. Se acontecesse mais cedo, na hora do jantar, certamente o resultado seria fatal.
Felizmente não foi o que ocorreu!
Somente um susto e uma história a mais pra trazer na bagagem. Depois de passada
toda a adrenalina, fui dormir já eram quase 5 da matina. Em algumas horas já estava
de pé pra pegar o vôo de volta. Da cidade de Buenos Aires só ficaram boas
recordações, e muitas delas se devem aos novos amigos feitos na Calle Moreno. Não poderia ter sido
recebido de melhor maneira naquela cidade, agradeço a todos pelo carinho que me
foi dado nos dias em que estive presente naquela casa. Me faltam palavras pra
dizer o quanto todos foram importantes durante minha estadia por lá. Conversas,
risadas, rolês e boas histórias foram compartilhadas. Carregarei todos comigo
em minhas lembranças, pra sempre! É esse
tipo de coisa que a final de contas importa numa viagem, a meu ver. Serei
eternamente grato por ter topado sempre com boas pessoas por todos os lugares
aos quais passei durante esses 25 dias em território argentino e chileno. Espero
ansiosamente pelas próximas paisagens, por novos amigos, e pela sensação de
extrema pequenez quando nos colocamos em perspectiva diante da imensidão do
mundo.
Bloco de mármore, depois de montado |
Claraboia (na tentativa de ilustrar o que narrei acima) |
Costanera, minha última foto em Buenos Aires. |