domingo, 14 de junho de 2015

Dia 19



No dia seguinte, minha primeira manhã na “pensão”, levantei cedo depois de descansar numa cama muito boa, num quarto com ventilador só pra mim (sem a necessidade de dividi-lo com mais nove pessoas, como no Play Hostel). Fui até a cozinha preparar um café e logo conheci Emanuel, um jovem de 17 anos apenas, embora muito inteligente. Falamos sobre política, economia, entre outras coisas. Este me contou que era recém chegado a Buenos Aires, pra estudar no Instituto Tecnológico de Buenos Aires. Embora em alguns momentos apresentasse uma visão um pouco inocente de certas coisas, digamos assim, era demasiado culto pra sua idade.



Logo Pepe, o finlandês que na noite anterior havia me mostrado a casa, juntou-se a nós. Aí o papo entrou em certas questões históricas como colonização, eurocentrismo, papel do indígena na sociedade atual, etc. Muito proveitosa à troca de ideias, conversamos por pouco mais de uma hora. Próximo do horário de almoço me arrumei pra encontrar Anita em sua casa, em Palermo. Pra isso, deveria pegar o ônibus 37 na Avenida Belgrano, com parada na Praça Itália. Cerca de vinte e cinco minutos depois de subir para o ônibus, desci na tal praça. Ali eu já estava ambientado e fui direto pra casa de Anita sem demais problemas.



Cheguei lá no horário combinado, às 13h30min, tendo que espera-la por 40 minutos (mal sabia ela que eu adoro esperar). Passado esse tempo, chega Anita com um amigo de sua classe de espanhol, um californiano chamado Nick, que iria almoçar conosco. A princípio o cara era bem de boa, fui logo trocando ideia pro cara não se sentir excluído. Iríamos num restaurante árabe chamado Sarkis, muito bom por sinal. Pedimos charutos, falafel, pão sírio e húmus. Pegamos porções pequenas, seguindo recomendação de Anita, mas ficamos todos satisfeitos.



No decorrer do almoço o sujeito mostrou-se um puta mala sem alça. O cara não entendia nada do que comentávamos (e não por não saber traduzir, pois ele compreende até bem o espanhol, mas por falta de malícia mesmo). Tudo era motivo pro cara soltar um “não compreendo, Anita!”, de uma forma pausada e irritante pra caralho. Já não via a hora daquele maluco vazar logo, benzadeus. Terminamos o almoço e o gringo tomou seu rumo, finalmente. Eu e Anita partimos então pro bairro de La Boca, a fim de conhecer o museu Boquense.



Chegando às proximidades já se nota a diferença social gritante. Ruas mais sujas, pessoas mais humildes de origem negra e indígena, diferente daquela Buenos Aires branca observada até então. De imediato fomos à uma lojinha perguntar onde poderíamos comprar ingressos pro jogo de quinta-feira, pela Copa Libertadores da América. A atendente da loja tratou logo de nos amedrontar, dizendo para que tomássemos cuidado porque no dia anterior haviam cortado a garganta de um turista por conta de seu celular. Bom, levamos o conselho a sério e fomos procurar tickets para o museu. Acabei me frustrando, pois o museu estava fechado e não sabiam dizer o porquê, já que não era dia de jogo e deveria estar aberto.



Quanto aos ingressos pro jogo, o funcionário da bilheteria nos disse que todos já tinham sido vendidos de forma antecipada (para associados do clube), e os vendidos nas ruas por cambistas eram todos falsos, desencorajando-nos a fazer qualquer tentativa de encontrar por um par de ingressos. Depois de um role frustrado pelo estádio, tiramos algumas fotos e partimos pra uma tenda oficial a fim de levar algumas lembranças. Acabei comprando uma camiseta para o meu velho e um shorts e meião pra mim. Nessa loja pude perceber como alguns brasileiros são escrotos. Dois casais que faziam compras pediam tudo em português com a atendente, que se esforçava para entendê-los.



Porra, ta no país dos caras, empreenda um mínimo de esforço para praticar a língua, não custa nada. Enfim, cada um desfruta de sua viagem da forma que acha melhor. Saímos dali e fomos a uma outra loja, a qual a vendedora tinha nos aconselhado a tomar cuidado, pois Anita havia gostado de uma camiseta do Boca retro, do ano de 1980. Nessa loja trocamos muita ideia com as vendedoras, que foram muito simpáticas conosco, demos muita risada. Além da camisa retrô e uma bermuda, Anita comprou uma camiseta pro seu irmãozinho. Saímos dali e fomos embora pra San Telmo, pois Filipe faria um churrasco em seu prédio e havia nos convidado.



Chegamos lá por volta das 19h00min e fomos até o supermercado comprar carne e as cervejas. Feitas as compras, eu e Filipe subimos pra churrasqueira a fim de acender o fogo, tomando umas beras e rachando o bico. O processo de acendimento do fogo acabou sendo um aprendizado pra mim, pois o assado porteño é feito de outra forma, não como fazemos no Brasil. A churrasqueira deles consiste numa superfície plana, um balcão, com um exaustor em cima. O carvão é colocado sobre uma armação metálica. Após seu acendimento, se espera o carvão se converter em brasa. Quando isso acontece, os pequenos pedaços incandescentes caem sobre o balão, aí nós os arrastamos com a ajuda de uma pá pra baixo da grelha, onde já estão as carnes. O preparo é controlado por meio de uma manivela lateral, que se roda para aproximar ou afastar as carnes da s brasas. Muito curioso esse tipo de churrasco.

Já com o fogo aceso, subiram Anita, Marina (namorada do Filipe) e sua sogra. Chegou também um amigo do Filipe, o “carioca” Bruno. Comemos, bebemos e demos muitas risadas. Depois das mulheres terem ido embora nós começamos o “papo de boleiro”, permanecendo nessa até por volta da 01h00min, quando finalmente fomos embora. Peguei o número 103 a uma quadra da casa do Filipe. Esperei cerca de dez minutos no ponto e o bus já chegou, muito eficiente o transporte público de Buenos Aires. Funcionam 24 horas e por um preço aceitável (subsidiado pelo governo). Saltei a duas quadras da casa sem erro algum. Assim que cheguei, embriagado que estava, logo durmi.

- almoço no “Sakis”: 77 pesos

- gastos na loja do Boca: 800 pesos

- gastos para o churras: 100 pesos



Dali que o Maradona assiste aos jogos.

João Romão e eu!

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