quinta-feira, 28 de maio de 2015

Dia 14



Despertei às 06h00min, escovei os dentes e fumei um cigarro. Adquiri esse hábito durante minha estadia no parque, pois em meio a toda aquela imensidão não há muita coisa a se fazer, então um cigarro e uma conversa se torna algo prazeroso (além de esquentar um bocado). Ao meu lado estava Renata, uma brasileira do Rio de Janeiro que dormiu num banco ao meu lado. Na ocasião me orientou a não perder tempo procurando hostel pela cidade, pois todos estavam lotados, como já desconfiávamos.



Resolvi que o melhor a se fazer era ir a El Chaltén com passagem de volta já comprada, pois meu vôo sairia dali mesmo, Calafate, no domingo. Depois de uma rápida pesquisa pelas empresas que faziam o trajeto, consegui um passeio de ida e volta ao Perito Moreno (ali mesmo em Calafate) saindo às 08h30min e retornando às 16h00min. Além disso, consegui uma passagem pra Chaltén na seqüência desse passeio, no mesmo dia, com retorno marcado para o domingo (como havia planejado). Dessa forma, haveria tempo de conhecer o Perito Moreno, ir até Chaltén para completar o trekking ao Fitz Roy, e voltar em tempo de pegar meu vôo a Buenos Aires.

- passagem de ida e volta ao Perito Moreno e ida e volta a Chaltén: 782 pesos

- entrada ao Parque Nacional Los Glaciares (Perito Moreno): 150 pesos

- torta na rodoviária: 20 pesos

- guarda-volumes no terminal rodoviário: 10 pesos



A ida ao Perito Moreno seria de aproximadamente uma hora. Como a noite anterior sido péssima, senti sono por todo o trajeto. Assim que chegamos à entrada do parque um funcionário subiu ao ônibus para cobrar os tickets de entrada. Assim que todos pagaram o motorista seguiu até uma embarcação para àqueles que quisessem fazer um passeio pelo Lago Argentino, se aproximando bastante dos paredões de gelo. O detalhe é que para tal passeio o cidadão deve desembolsar mais 200 pesos. Se nem os turistas gringos se deram ao luxo de desembolsar seus euros, imagine eu, só mais um cidadão latino americano. Um absurdo! Dois ou três passageiros optaram pelo passeio, mais ninguém. Assim seguimos para as passarelas a fim de conhecer o Campo de Gelo Sul.



A visão que se tem do paredão é magnífica! Na parte da frente, se tem a sensação da magnitude da imagem, 50 metros de altura. Em sua profundidade, o campo de estende por 14 km. Se perde a visão de tudo, em sua totalidade. A cada desprendimento de pedaços do paredão gelado se tem um espetáculo fabuloso. Um estrondo marca a queda dos pedaços de gelo na água, coisa de toneladas. Dizem que uma camada de 1 metro se desprende a cada dia. Paro o relato por aqui por um instante, pois escrevo essa parte observando a magnitude do Fitz Roy, mas um grupo de turistas gringos, já de mais idade, quebrou minha harmonia. Sentaram ao meu lado para desfrutar do seu almoço que o seu passeio guiado (e muito mais caro, provavelmente) lhes proporcionou. Realocado a alguns metros mais longe, agora sem escutar a voz histérica das senhoras gringas, retomo a descrição.



Voltemos ao Perito Moreno. Um conjunto de passarelas metálicas circunda a imensidão gelada. A verdade é que em alguns minutos já se pode ver tudo, e os mais apressados já sobem logo para a loja de lembranças e para o café, a fim de consumirem algo. Mesmo com os joelhos me matando por conta da trilha finalizada há dois dias atrás, fiz questão de percorrer tudo, afinal de contas só eu sei o sacrifício que fiz para desfrutar daquele momento. Depois de cerca de duas horas de caminhada sobre as passarelas e muitas fotos tiradas, subi ao café para comer algo. Tomei uma Isenbeck (cerveja argentina de puro malte muito bem recomendada) e comi um sanduíche de carne a milanesa y queso, muito generoso. Uma vez alimentado, fumei um cigarro, daqueles ainda presenteados pelos catalães. Foi aí que me bateu um sono tremendo, cheguei até a cochilar sentado num banco. A fim de vencer o sono, fui até a loja de lembranças para ocupar a cabeça, já que grana eu não tinha pra mais nada!



Foi ali que pude perceber que alguns brasileiros só fazem esses passeios com o intuito de comprar coisas baratas. Não todos, é claro, não quero cair em generalismos. Andando pelas prateleiras, em silêncio, vejo dois senhores que aparentavam ter seus 50 anos. Um deles pegou um par de meias e disse: “Vou levar, não se encontram meias baratas assim no Brasil!”. Porra, o cara foi pra Argentina, acabou de conhecer um dos maiores campos de gelo do Hemisfério Sul e vai levar meias pra casa? Bem, quem sou eu pra julgá-lo, cada um sabe bem onde seu calo aperta.



Bem, depois de matar algum tempo até a chegada do ônibus, embarcamos de volta à Calafate às 14h30min. A volta foi um tanto tediosa, dormi grande parte do trajeto. Chegando ao terminal fui logo esperar meu próximo ônibus que me levaria à Chaltén. O ônibus saiu do terminal rodoviário quase vazio, vim sentado no primeiro banco, dessa vez sem ninguém ao meu lado. Observei a estrada por todo o percurso, com medo do motorista dormir, pois se trata de retas intermináveis, seguidas de algumas poucas curvas nada acentuadas.



Três horas depois chegamos a Chaltén, a capital nacional do trekking, onde conheceria o local de onde escrevo agora. Antes, uma breve descrição do que encontrei. Trata-se de uma cidade muito pequena, talvez a menor pela qual passei até agora. Assim que cheguei já avistei um hostel ao lado do terminal rodoviário e logo fui perguntar o preço da diária. Seriam 160 pesos. Achei o preço justo pela estrutura e fiz check-in sem ver outros valores. Deixei minha mochila no quarto e fui logo dar uma volta pela cidade a fim de fazer câmbio. Passando por outros locais vi que havia preços mais acessíveis, embora com estruturas mais precárias. Logo vi que o câmbio para o Real na cidade seria péssimo (3,10 pesos para cada Real – estava cambiando a 4,5 nas cidades anteriores) e assim teria que passar os dois dias ali na penúria, se não quisesse perder dinheiro.



Fui logo a uma pequena venda e comprei pão, um pacote de cereal, uma caixa de leite, uma caixa de suco de laranja, duas pequenas barras de chocolate, uma caixinha de manteiga e só. Soma-se a isso uma bandeja de presunto embalada a vácuo e um pote de doce de leite, que me restaram da trilha. Isso seria meu suprimento alimentício pelos próximos dois dias que teria pela frente. Nessa mesma vendinha fiz câmbio de R$ 100,00 para pagar a despesa do hostel. Sendo assim, voltei ao hostel pra descansar pro dia seguinte, que seria longo.

- compra de mantimentos: 108 pesos

- diária de dois dias no hostel: 320 pesos
Perito Moreno - Parque Nacional Los Glaciares


Na parte do gelo que parece estar "suja" ao centro da foto, havia uma espécie de arco que conectava a geleira com as pedras. Em março de 2004 esse arco se rompeu, evidenciando o processo de degelo.



Onde havia o tal "arco".

 Passarelas metálicas, muito bem construídas!


 
Pássaro comendo o fruto que dá nome à cidade (Calafate).

El Chaltén, a capital nacional do trekking.

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